matiné (foi bom, muito bom, mas já acabou)

tudo começou no encanto das mantas para nos proteger do frio durante as (cerca de?) 3 horas de peça...

O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht
encenado por Marco Antonio Rodrigues - 37ª produção d' O Teatrão de 13 de Dezembro de 2007 a 27 de Janeiro de 2008, no Museu dos Transportes, Coimbra


Brecht escreveu O Círculo de Giz Caucasiano entre 1943/45, no final da Segunda Guerra Mundial, durante o seu exílio nos EUA. Nesta obra, o dramaturgo coloca, em forma de prólogo, uma discussão entre dois grupos de russos, em torno dos direitos sobre uma propriedade a que voltam após o afastamento das forças nazis. A questão, posteriormente desenvolvida na acção principal da peça, centra-se em saber sobre que princípio deve o caso ser estabelecido? Para isso, Brecht constrói uma fábula, de inspiração oriental. Durante a guerra civil, o filho do governador é abandonado pela sua mãe e criado por uma ajudante de cozinha, Gruscha. (...)

A inspiração que Brecht nos pode dar é, antes do artista, a do cidadão. O que assistimos e fazemos, todos nós, trabalhadores de teatro, é julgar e criticar algo que pensamos exterior a nós, culpar o sistema, essa entidade de difícil definição que todavia domina a realidade quotidiana. No fundo, ninguém acredita na capacidade de mudança colectiva. Acreditamos, talvez na capacidade ilusória de um pretenso conforto apoiado no avanço tecnológico que também nas artes se repercute. Acreditamos que a relação entre público e plateia não tem capacidade de evolução, tendo esgotado já todas as suas possibilidades. Em suma, não acreditamos, desacreditamos. Como podemos então ser artistas? Como podemos então questionar o nosso posicionamento dentro do sistema? Como podemos tomar posição? É da responsabilidade do artista como produtor de pensamento, da sua posição percursora na sociedade que queremos falar, da força transgressora do indivíduo que age dentro do sistema, sabendo que a própria transgressão contém em si dois momentos: o reconhecimento da ordem estabelecida e a capacidade para inverter essa mesma ordem através das acções praticadas.

ler mais

fotografias de Paulo Abrantes, no flickr



se não viram, espero que venham a ter a possibilidade de ver esta peça apresentada pel'O Teatrão, quiçá um dia destes, perto de vós... estejam atentos, vale a pena

1 comentário:

lésbica só disse...

será que vem ao porto? fiquei com uns ciúmes...




Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.

Alberto Carneiro
[Katharine-Hepburn-Atheist-Bus-Campaign-Tube-Advert-25pc.jpg]