botânica

Durante 1 ano, mais coisa menos coisa, escrevi textos que se assemelham a poemas. Devo dizer que penso que não eram más imitações, fingiam bastante bem. E digo mais: muitos leigos podem ter acreditado que estavam a ler poemas. Cada qual tem aquilo que merece. Não é difícil escrever uma imitação de poema. Houve vezes em que senti aproximações de calafrio. Não sou insensível como uma besta embora pese que na grande maioria das horas sou insensível q.b.. Dizia sobre os calafrios que por vezes senti, enfim não se pode dizer que me envergonho, mas também não me orgulho. Sem mais rodeios, confesso que houve dias em que senti desconcerto por estar a usar palavras, digamos… nobres, em imitações de poemas. Está dito. Agradeço que não vá alguém incorrer no erro de pensar que esta confissão seja uma declaração de sensibilidade ou, pior, de respeito. Adiante.
Engendrei uma fórmula, que jamais tornarei pública, para que me caiam as mãos e queimem os olhos se eu voltar a usar as palavras sono cozinha tremocilha pássaro pele fome cerejeira magnólia amendoeira palavra tu verde água pão mãe corda terra filho filha filhas filhos silêncio pomar corda mãos útero cama raiz árvore árvore árvore em imitações de poemas.
Eu tinha obrigação de não ludibriar as pessoas. Atenção, não é uma obrigação qualquer, é obrigação profissional. Fui treinada em Linguagem. E ficam a saber que frequentei uma escola prestigiada. Ah pois!
Imagino o que diriam alguns dos meus professores se soubessem desta vida dupla que levo com as palavras. Tenho saudades deles. Já agora, aproveito este momento para dizer que nunca concordei com a troça que faziam da professora E. nas aulas de Linguística. Sempre me deliciei à volta das árvores de palavras que ela desenhava no quadro.

Repare-se na expressão: .á r v o r e. .de. .p a l a v r a s.. Notável. Absolutamente notável.

Rigor: Uma pessoa que se comova com árvores de palavras deve ter mais acatamento.

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Árvore de outono com brincos de princesa
de Egon Schiele
1909

5 comentários:

menina alice disse...

"Imagino o que diriam alguns dos meus professores se soubessem desta vida dupla que levo com as palavras."

Que bonito isto. Tem mais coisas bonitas o texto, mas sobressaíu-me esta. Se bem que,

"Uma pessoa que se comova com árvores de palavras deve ter mais acatamento."

devia ter força de Lei (assim mesmo, com maiúscula).

ana c. disse...

eu gosto muito das tuas imitações de poemas. mas comovo-me com árvores. não só de palavras.

Menina Limão disse...

(...)

respeitinho é muito lindo. por isso calo-me. (abraço apertado)

margarete disse...

:)*:)*:)*

lésbica só disse...

bem me parecia;)...




Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.

Alberto Carneiro
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