o sentido da vida

Estranho. A única coisa em que pensas é que ela morreu. Isso até se aplica aos mortos. Eu aqui em cima, na claridade e no quente e, quilhado como estou, com cinco sentidos, um cérebro e oito tipos de compotas – e os mortos mortos. A realidade imediata está do lado de fora daquela janela; é tão grande, é tanta, tudo enredado em tudo o mais… que grande pensamento se esforça Sabbath por exprimir? Está a perguntar: «Que aconteceu à minha própria vida genuína?» Estaria a ser vivida noutro lugar? Mas nesse caso como é possível olhar para fora desta janela seja tão colossalmente real? Bem, essa é a diferença entre o verdadeiro e o real. Nós não chegamos a viver na verdade. Foi por isso que Nikki fugiu. Era uma idealista, uma comovedora, inocente e talentosa ilusionista que queria viver na verdade. Bem, se a encontraste, miúda, foste a primeira. De acordo com a minha experiência, o sentido da vida vai na direcção da incoerência – precisamente o que nunca quiseste enfrentar. Talvez essa tenha sido a única coisa coerente que te ocorreu fazer: morrer para recusares a incoerência.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000



fotografia de Carlos Veríssimo

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Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.

Alberto Carneiro
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