Mostrar mensagens com a etiqueta mindfuckers. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta mindfuckers. Mostrar todas as mensagens

entretenimento

Eram inumeráveis todos os grandes pensamentos que não entendera; o que ele não tinha para dizer acerca do significado da sua vida era um poço sem fundo. E uma coisa divertida é supérflua – o suicídio é divertido. Não são muitos os que têm consciência disso. Não é instigado pelo desespero ou pela vingança, não nasce da loucura, ou da amargura, ou da humilhação, não é um homicídio camuflado ou uma demonstração grandiosa de auto-abominação: é o retoque final da anedota em voga. Ele considerar-se-ia um falhado ainda maior se se apagasse de qualquer outro modo. Para alguém que adora uma piada, o suicídio é indispensável. Para um fantocheiro, especialmente, não há nada mais natural; desaparecer atrás do biombo, enfiar a mão e, em vez de actuar como ele próprio, acabar como o fantoche. Pensem nisso. Não há nenhuma outra maneira mais absolutamente divertida de partir. Um homem que quer morrer. Um ser vivo que escolhe a morte. Isso é entretenimento.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000


Attempted suicide machine de Makato Aida
2001

(curtas de Mickey Sabbath)

E não era capaz de o fazer. Não podia morrer, porra. Como podia partir? Como podia ir-se embora? Tudo quanto odiava estava ali.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000

o sentido da vida

Estranho. A única coisa em que pensas é que ela morreu. Isso até se aplica aos mortos. Eu aqui em cima, na claridade e no quente e, quilhado como estou, com cinco sentidos, um cérebro e oito tipos de compotas – e os mortos mortos. A realidade imediata está do lado de fora daquela janela; é tão grande, é tanta, tudo enredado em tudo o mais… que grande pensamento se esforça Sabbath por exprimir? Está a perguntar: «Que aconteceu à minha própria vida genuína?» Estaria a ser vivida noutro lugar? Mas nesse caso como é possível olhar para fora desta janela seja tão colossalmente real? Bem, essa é a diferença entre o verdadeiro e o real. Nós não chegamos a viver na verdade. Foi por isso que Nikki fugiu. Era uma idealista, uma comovedora, inocente e talentosa ilusionista que queria viver na verdade. Bem, se a encontraste, miúda, foste a primeira. De acordo com a minha experiência, o sentido da vida vai na direcção da incoerência – precisamente o que nunca quiseste enfrentar. Talvez essa tenha sido a única coisa coerente que te ocorreu fazer: morrer para recusares a incoerência.

in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000



fotografia de Carlos Veríssimo

fantoche!

A lei da vida: instabilidade. Para cada pensamento um contrapensamento, para cada anseio um contra-anseio. Não admira que um tipo dê em maluco e morra ou decida desaparecer. Anseios a mais, e isso não é sequer um décimo da história. (…) o cérebro de mais ninguém trabalha assim? Não acredito. Isto é um envelhecimento puro e simples, a hilaridade autodestruidora da última montanha-russa. Sabbath encontra o seu igual: a vida. O fantoche és tu. O truão grotesco és tu. Tu és Punch, artolas, o fantoche que brinca com tabus!


in Teatro de Sabbath de Philip Roth
Publicações dom Quixote, Colecção Ficção universal
2000


Photobucket
imagem do novo look da yorn

post reproduzido na íntegra do blog O Café dos Loucos

Coimbra, 1 de Fevereiro de 1937


MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO

Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.

Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas.

Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.

Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.


Fernando Assis Pacheco, in "Sião" frenesi, 1987




Post afixado por Miguel n'O café dos loucos que roubo descaradamente e dedico ao Bonirre, ao Dr.Gica, à Armanda, ao Pedro, à E., enfim... a nós, portanto, neste dia 1 de Fevereiro de 2008 em que alguma coisa muda. É um dia diferente. É um dia de reflexão.


Bom-dia, camaradas!

ring-around-a-rosie

Quando, de alguma forma, se é outsider, é natural (d'a natureza das tribos) o indivíduo ver-se negado de certas regalias de pertença à tribo; este facto pode mascarar-se e parecer um mal-maior. Sendo que a nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer*, sucede-se o pensamento do dia: É importante mantermo-nos focados no declínio das regalias de tribo em favor da leveza da genuinidade.

Ring around a rosie!
Ring around a rosie, a pocket full of posies. Ashes, ashes, we all fall down!
We all fall down!


Children Playing "Ring around a Rosie", Edwin Rosskam
Chicago, 1941


*A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer de Stig Dagerman
Fenda ed., 1995

saber servir-se d'ella

... um dia a loucura virá plo seu proprio pé bater à tua porta, e tu, desprevenido, e tu sem mãos para a esganar, porque a loucura já será maior do que na palma da tua mão, porque a loucura será maior do que as tuas mãos, porque a loucura poderá mais do que tu com as tuas mãos; e ella fará de ti o pior de todos, por não teres sabido servir-te d'ella como tu devias sabe-lo querer!

in Uma cruz na encruzilhada
A invenção do dia claro de José de Almada-Negreiros
Colares Editora, 1993

O Grito de Edvard Münch, 1893

This derangement.

Reclining Nude, Amadeo Modigliani
1919

Attachment creeps in. The eternal problem of attachment. No, not even fucking can stay totally pure and protected. And this is where I fail. The great propagandist for fucking and I can’t do any better than Kenny. Of course there is no purity the kind Kenny dreams of, but there is also no purity of the kind I dream of. When two dogs fuck there appears to be purity. There, we think, is pure fucking, among the beasts. But should we discuss it with them, we would probably find that even among dogs there are, in canine form, these crazy distortions of longing, doting, possessiveness, even of love.
This need. This derangement. Will it never stop? I don’t even know after a while what I’m desperate for. Her tits? Her soul? Her youth? Her simple mind? Maybe it’s worse than that – maybe now that I’m nearing death, I also long secretly not to be free.


in The Dying Animal de Philip Roth
Vintage Books, 2001




Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.

Alberto Carneiro
[Katharine-Hepburn-Atheist-Bus-Campaign-Tube-Advert-25pc.jpg]