outro ser

Talvez não queiramos voar. Não diria que haja o desejo de se ser pequenino, maneirinho. A pele faltar-nos-ia, imagino. (Como seria o processamento sensorial da penugem? Seremos tão, ou tão pouco, frágeis que nos escapem pássaros das mãos?) Em situação interina de prostração o corpo sobra. O peso é a indelicadeza major aquando do esmorecimento de se ser. Reconheçamos: o indesejo reside no voo. Depois… Começamos por inventar palavras a substituir a imobilidade terrena e, num ápice, encontramo-nos graves de gravidade. A automatização instala-se, sugando a cumplicidade enquanto nos fornece tempo. (tempo escusado, pois o que procuramos tem-nos acompanhado desde se ser ser) Ando cada vez mais certa de poder fazer um resumo. Repare-se: mar, árvore, pássaro, assobio.

Helena Almeida, Voar (in 4 parts)
Helena Almeida
Voar (in 4 parts), 2001



mais sobre assobios... Alex, Little Black Spot e Pedro

5 comentários:

Anónimo disse...

sou eu, menina,
eu é que gosto tanto tanto de te ler

a ti

e aos teus pássaros

*

*

saturnine disse...

wow, realmente que conjunção cósmica do caraças! :O lindo(s) post(s). :)

saturnine disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
margarete disse...

:)* :)*

bookworm disse...

:')




Uma árvore é uma obra de arte quando recriada em si mesma como conceito para ser metáfora.

Alberto Carneiro
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