(título secreto)
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margarete
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exijo-me fazer um tecto destes, lá, na tal a casa
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margarete
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(o eterno poema para esta manhã)
Vais e vens na memória dos dias
onde o amor
cerciu a casa de luz matutina.
Às vezes sabíamos de ti pelo aroma
das glicínias escorrendo no muro,
outras pelo rumor do verão rente
ao oiro velho dos plátanos.
Vais e vens. E quando regressas
é o teu cão o primeiro a sabê-lo.
Ao ouvi-lo latir, sabíamos que contigo
também o amor chegara a casa.
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margarete
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um gnomo! [ epifania do dia ]
é a prenda que eu quero quando, um dia, encontrar a casa dos meus sonhos - um gnomo para pôr no jardim!
tal e qual o da Amelie Poulain

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margarete
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Manoel de Oliveira, amor, Paris e a palavra "casa"
Oiço Saramago a proferir o nome da mulher "Pilar" na forma mais pura de se dizer "o meu amor". Silêncio. Só me apetece repetir a minha memória e ouvir amiúde "Pilar".
A televisão ficou como ruído de fundo da sala de luzes suaves e quentes, falou-se de viagens.
Há coisas que fazem sentido só para nós próprios. Não sei se fica explícita a lógica desta sequência ou se é "só uma coisa minha".

Quero deixar aqui o desejo de Feliz 100º Aniversário a Manoel de Oliveira, autor de uma mão cheia de filmes que vi (que são poucos tendo em conta a sua produção) dentre os quais um filme dos "muito significativos" para mim, para a ilustração da minha vida - "Vou para Casa".
Bem haja, Manoel de Oliveira.
Que a natureza continue a ser caprichosa!
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margarete
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imagem
O assobio do vento e o chilrear dos pássaros. O imponente monte negro à minha frente. A silhueta bela de árvores de pé em contraluz ao azul previsível de um novo dia. O delicado traço curvo de lua ao final desta noite.
And then later, when it gets dark,
We go home.
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Bem-estar. Sensação de conciliação. Comoção.
A minha avó materna foi a última a partir. Sempre se disse que eu, dentre as sete netas, era a mais parecida com a avó. Sendo que eu a considerava uma pessoa dura, assustava-me essa comparação que carregava desde a infância. Viver próximo da minha avó dos 20 aos 24 anos, trouxe-me as provas da beleza dela. Beleza que não era acessível a todos, pelo que poderei dizer que fui privilegiada. Vimo-la partir demasiado cedo, como sempre se vê partir um ente querido. A partida da minha avó materna implicou a ascensão de todos nós na hierarquia familiar. Cada geração passou à instância seguinte.
Há mulheres na minha família materna que parecem ter sido inspiração do filme Volver. O meu avô, falecido há vinte e cinco anos, jaz numa campa que nunca deixou de ter flores frescas. Já me aconteceu chegar ao cemitério e não ter onde colocar as flores que levara de tão cheias as duas jarras. Agora, na mesma campa, jaz a minha avó há quase sete anos.
Sete anos volvidos, uma campa dupla sempre airosa e a casa intacta. A casa intacta. Nem uma teia de aranha, apenas um ligeiro odor a casa encerrada. Cada objecto no respectivo local onde a avó os deixara a última vez que lhes tocara. As molduras com as nossas fotografias, os bibelots, os naperons feitos pela avó. Apenas a ausência de dálias na jarra junto ao telefone.
Sabendo a família que eu precisava urgentemente de cadeiras novas, as minhas tias perguntaram-me se eu queria receber aqui em casa a mobília de sala de jantar dos avós. A resposta foi imediata: sim, claro, muito obrigada por terem pensado em mim. Lá se fez a visita ritual para observação do estado de conservação dos móveis. A tia F. ia dizendo “Se quiseres levar mais alguma coisa, diz, escolhe.”. Chegara o tempo de dar mais um passo no luto dos avós. Cada um contou as histórias de que se lembrou. Derramaram-se algumas lágrimas e disse-se que a vida não deveria ser assim.
No final, trouxe uma carrinha cheia de móveis. Não fazia a mínima ideia de como os iria dispor cá em casa, pois se a casa já estava toda mobilada… mais umas horas de prazer e acabada a distribuição dos móveis pela casa, sentámo-nos a observar os vestígios de avós cá em casa. Já cá moravam: a cómoda dos meus avós paternos, junto com o chapéu dele e o xaile dela; o baú dos avós paternos dele e os paninhos da avó materna, que os continua a enviar a cada visita. Agora, acrescentados a mesa de jantar e as oito cadeiras devidas, as duas poltronas de napa, a mesinha de apoio com tampo marmoreado, os pequenos objectos como o relógio despertador verde-água e a candeia a petróleo, fica a casa completa. Cada objecto parece ter sido concebido a pensar na minha casa. Porém, o que trouxe de mais fantástico não foram os móveis ou os objectos que, de forma melhor ou pior, sobrevivem aos anos sem necessidade de cuidados. No pátio que serve de ligação da casa dos avós com as várias divisões de arrumo, há um espaço específico para as plantas da avó… volvidos sete anos, as plantas da avó mantêm-se vivas, graças aos cuidados da minha tia O.. Esta é uma das coisas que me faz estremecer por dentro. Eu não sabia que as plantas da avó lhe continuavam a sobreviver. Volvidos sete anos! Comoção. Que eu trouxesse as que desejasse. Todas, até, disse a tia F.. Trouxe 3 plantas enormes, duas estão aqui na sala comigo e uma está na varanda. Não existem palavras comuns para descrever esta espécie de sensação de conciliação com a ausência da minha avó ao olhar as plantas que foram criadas, envasadas e regadas por ela.
Bem-estar é: chegar à sala e confirmar que após estas semanas as plantas vingaram da mudança de casa; ver o verde misturado com esta maravilhosa luz da manhã; fazer um galão-margarete (leite aquecido com casca de limão, café tirado com mistura de canela no cachimbo); regar as plantas com um silencioso “bom-dia, 'Vó…” e o implícito “tenho saudades tuas”; beber o galão enquanto olho de novo o verde com a luz da manhã e o gato roça as minhas pernas ao som de Cinema de Rodrigo Leão.
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(sobre o silêncio)
A refeição celebra-se na quase total mudez. Com interrupção para o cumprimento à cozinheira – Está delicioso, como sempre.
Raramente tenho azar na cozinha. Talvez o motivo resida no amor - prazer – com que me sereno frente ao fogão. Aprecio cada momento. Tudo realizado com tonalidades de ritual. Foi sempre assim. Fui sempre assim. Cozinho com a boca e com os olhos. Sou calculista relativamente a cada componente da refeição. Aquisição dos ingredientes, confecção, cerimónia de serviço. Talvez a tarefa que execute com maior primor. Nunca estudei ou trabalhei com tanto preceito quanto o faço em tarefas relativas à cozinha.
Tomo café e fumo o cigarro para dentro da lareira.
Estes dias são… Estes dias são… Não consigo. Não o consigo pronunciar.
Há expressões cuja vida se completa no silêncio.
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